Contrabandistas aproveitam fluxo intenso na fronteira na Ponte da Amizade para fazer o transporte ilegal de cargas até o Brasil
Criminosos esperam o horário de maior movimento para fazer o transporte clandestino de mercadorias em motocicletas
Foto: Reprodução/TV Globo
A Ponte da Amizade, que liga Ciudad del Este, no Paraguai, a Foz do Iguaçu (PR), no Brasil, virou cenário de contrabando. Isso porque criminosos esperam o horário de maior movimento para fazer o transporte clandestino de mercadorias em motocicletas. O esquema milionário é chamado de ‘motociata do contrabando’.
Uma reportagem do Fantástico, exibida neste domingo, 21, mostra que às 7h, o horário de maior pico na fronteira, contrabandistas e traficantes aproveitam a confusão devido ao trânsito intenso e a fragilidade na fiscalização para cometer crimes. Nesse momento, muitos paraguaios atravessam para trabalhar em Foz do Iguaçu.
“Essa tática de passar o contrabando com a moto é um trabalho de formiguinha”, diz Cézar Augusto Vianna, delegado da Polícia Federal. “Pela manhã, chega a mil e 1500 [motos] por hora entrando sentido Paraguai para o Brasil e eles aproveitam desse movimento para, no meio dessas pessoas, passar o contrabando, que é o foco deles”, aponta.
Como funciona o esquema
Conforme a reportagem, muitos motoqueiros pegam produtos em uma tenda, ao lado do prédio da imigração paraguaia. Eles escondem os pacotes nas motos ou por dentro da roupa e seguem caminho, principalmente no horário de maior movimento.
A equipe de reportagem perguntou a um dos “laranjas” quanto era para passar 10 celulares até um hotel. Ele informou que seria R$ 30, sendo que os taxistas cobram R$ 45. Esses “laranjas” vão nas garupas das motos com a mercadoria contrabandeada, e assim, acompanham motoqueiros que atravessam todos os dias.
Alguns deles tentam fugir já no posto de fiscalização, em Foz do Iguaçu. A maior parte das mercadorias que entram aos poucos no País com as motos é transferida para ônibus, com destino a outras cidades e Estados.
Criminosos esperam o horário de maior movimento para fazer o transporte clandestino de mercadorias em motocicletas
Foto: Reprodução/TV Globo
Outra estratégia adotada pelos contrabandistas é de só carregar a maior parte da mercadoria já na estrada. Eles param os veículos em algum ponto, onde carregam os ônibus ou carros. Um dos veículos de viagem parados na blitz, a 258 km de Foz do Iguaçu, trazia mais de U$ 44 mil (quase R$ 240 mil na cotação atual) em contrabando. Entre as cargas, estão eletrônicos, como celulares, e cigarros eletrônicos, proibidos no Brasil.
“Grupos especializados só para dizer se a BR, se os locais estão limpos”, afirma João Ernesto, analista da Receita Federal.
Fluxo impede fiscalização mais efetiva
Segundo a Receita, no ano passado 1.294 motos foram apreendidas. Calcula-se que só esses veículos passaram mais 86 mil vezes pela fronteira até serem pegos. Esse fluxo movimentou R$ 760 milhões.
“Existe todo um trabalho de inteligência que é realizado na Ponte da Amizade, de leitura de placas que é feito por meio de inteligência artificial e a gente identifica quantas vezes determinada moto passou por dia”, explica o delegado.
Para fugir desse controle é que os motoqueiros utilizam da estratégia de passar ao mesmo tempo e no horário de maior movimento. Eles esperam no Paraguai para entrar no grupo de motociclistas e cruzar a ponte, ou então, aguardam do lado brasileiro antes de formar a aglomeração na entrada do posto de fiscalização.
“O volume de veículos que circulam nessa área gira em torno de 40 mil por dia, o que impede que aumente significativamente o número de abordagens”, afirma Vianna.
Nos últimos anos, os cigarros eletrônicos têm sido um dos produtos mais contrabandeados para o Brasil. De 2020 a 2024, o número de apreensões cresceu mais de 12 mil vezes. Boa parte desses produtos ilegais entram no País pelo Paraguai, cigarros, outros eletrônicos e até drogas são apreendidos e levados por laranjas.
Fonte: Redação Terra