//Abin paralela: PF intima diretor-geral da agência a prestar depoimento

Abin paralela: PF intima diretor-geral da agência a prestar depoimento

Depoimento deve ocorrer nesta quinta-feira, 17, e faz parte do inquérito que apura o esquema de espionagem ilegal de autoridades

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou o ex-diretor-geral da Polícia Federal Luiz Fernando Corrêa para exercer o cargo de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou o ex-diretor-geral da Polícia Federal Luiz Fernando Corrêa para exercer o cargo de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Foto: Divulgação/ Reprodução USP / Estadão

O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, foi intimado pela Polícia Federal a prestar depoimento. A oitiva deve ocorrer nesta quinta-feira, 17, e faz parte do inquérito que apura um esquema de espionagem ilegal, que ficou conhecido como ‘Abin Paralela’. As informações são do Blog da Andréia Sadi.

Conforme o site, a PF quer saber se houve alguma eventual obstrução por parte da gestão atual com relação à apuração do equipamento público durante o governo Bolsonaro, em que houve a espionagem de jornalistas, autoridades e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Todas as figuras espionadas eram tidas como desafetos do ex-presidente.

Além disso, a investigação apura se a Abin tinha conhecimento ou autorizou o suposto vasculhamento de autoridades paraguaias. Caos gerou uma crise diplomática.

Corrêa e o atual chefe da corporação, Andrei Netto, que comandou a segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a campanha de 2022,  são de extrema confiança do mandatário. Conforme o blog, a intimação coloca ambos em pólos opostos.

O Terra entrou em contato com a Polícia Federal, mas não conseguiu a confirmação da intimação. A reportagem também procurou a Abin, e não teve retorno até o momento. O espaço permanece aberto para manifestação.

Entenda a dinâmica da espionagem
A Polícia Federal investiga o caso no âmbito do inquérito que apura desvios da ‘Abin paralela’, na gestão do ex-diretor Alexandre Ramagem, durante o governo Bolsonaro, com possível uso da estrutura da agência contra opositores políticos do então presidente.

Alexandre Ramagem foi investigado no caso da 'Abin paralela'
Alexandre Ramagem foi investigado no caso da ‘Abin paralela’

Foto: Getty Images

O caso, no entanto, também levantou suspeitas de irregularidades sob a gestão do atual diretor.

De acordo com o agente, a ação usou um programa chamado Cobalt Strike, utilizado para invasão de sistemas informáticos: “O objeto da operação era a obtenção dos valores que seriam negociados do anexo C dos valores de venda de energia produzida por Itaipu”.

A ação não aconteceu a partir do Brasil, mas de servidores virtuais instalados no Chile e no Panamá, montados por agentes da Abin, relatou o servidor.

O agente afirmou que os alvos eram autoridades relacionadas diretamente à ‘negociação e aos valores a serem cobrados por megawatt’. Foram invadidos os sistemas do Congresso do Paraguai, Câmara e Senado, e da Presidência da República.

A ação contou com a captura de senhas e dados ‘de cinco ou seis’ autoridades paraguaias, disse o servidor à PF. As informações seriam usadas para a captura de dados sensíveis sobre as negociações sobre Itaipu. As identidades das vítimas, bem como a data da operação, não foram reveladas.

Ação teve aval de diferentes diretores
Ainda no depoimento, o servidor da Abin revelou que o planejamento foi aprovado pelo então diretor Victor Carneiro, que sucedeu Ramagem no cargo, já no fim do governo Bolsonaro. Contudo, a ação também contou com o aval de diretores seguintes, incluindo o atual, Luiz Fernando Corrêa.

O agente diz ter ‘apresentado pessoalmente’ a ação para Corrêa. “Luiz Fernando teria vibrado, gostou muito, que era a primeira vez que se sentia numa atividade de inteligência”, afirmou à PF.

Grupo montado no governo Bolsonaro usava dados da Abin para espionar adversários do ex-presidente e jornalistas, segundo a PF

Grupo montado no governo Bolsonaro usava dados da Abin para espionar adversários do ex-presidente e jornalistas, segundo a PF
Foto: Antonio Cruz/Agencia Brasil / Estadão

Delegado aposentado e ex-diretor da Polícia Federal no segundo mandato de Lula, Corrêa foi nomeado pelo petista à direção da Abin em 2023.

O Terra tentou um posicionamento de Victor Carneiro e da direção da Abin sobre o caso. O espaço segue aberto para manifestação.

Governo Lula reconhece espionagem, mas culpa Bolsonaro
Após o caso vir à tona, o governo Lula reconheceu a espionagem, mas afirmou que a operação aconteceu durante o governo de Jair Bolsonaro e foi interrompida após a posse de Corrêa à frente da Abin.

Em nota divulgada no último dia 31, o Itamaraty reconheceu que a operação ocorreu e foi interrompida quando a direção da Abin nomeada por Lula tomou conhecimento do caso.

“A citada operação foi autorizada pelo governo anterior, em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da Abin em 27 de março de 2023, tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato”, disse o Ministério das Relações Exteriores.

“O atual diretor-geral da Abin encontrava-se, naquele momento, em processo de aprovação de seu nome no Senado Federal, e somente assumiu o cargo em 29 de maio de 2023”. O Itamaraty também negou que o presidente Lula tenha dado aval à operação.

“O governo do presidente Lula desmente categoricamente qualquer envolvimento em ação de inteligência, noticiada hoje, contra o Paraguai, país membro do Mercosul com o qual o Brasil mantém relações históricas e uma estreita parceria”, disse o MRE.

“O governo do presidente Lula reitera seu compromisso com o respeito e o diálogo transparente como elementos fundamentais nas relações diplomáticas com o Paraguai e com todos seus parceiros na região e no mundo.”

Fonte: Redação Terra